O mercado financeiro aguarda um novo aumento da taxa Selic na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano. Atualmente em 11,25% ao ano, a maioria das projeções aponta para uma alta de 0,75 ponto porcentual, para 12%. No entanto, há quem acredite em uma alta ainda maior, de 1 ponto porcentual. O Bora Investir conversou com especialistas para entender os motivos por trás da esperada alta de hoje. Confira!
Desancoragem das expectativas e inflação alta
A economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, destaca que as expectativas inflacionárias permanecem desancoradas, com o IPCA projetado pelo Boletim Focus para 2025 em 4,6% e para 2026 em 4,0%, ambos acima da meta de 3% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
“Essas projeções expressam uma deterioração adicional das expectativas que embasaram a decisão de política monetária do último Copom, quando o BCB aumentou a magnitude do aperto monetário diante de um cenário que se mostrava menos nocivo do que o atual, com expectativas inflacionárias em 4,03% para 2025 e 3,6% para 2026”, diz ela.
Além disso, a inflação acumulada no ano caminha para superar o teto da meta, após o IPCA de novembro registrar alta de 0,39%. A pressão inflacionária, alimentada pela alta demanda agregada e pelo baixo nível de ociosidade da economia, reforça a necessidade de um aperto monetário mais rigoroso.
Atividade aquecida
Os dados de atividade econômica também sustentam a perspectiva de aumento. Segundo Harrison Gonçalves, sócio da CMS Invest, o crescimento do PIB acumulado até setembro, de 3,3%, e a projeção de 3,4% para o ano indicam uma economia operando acima de sua capacidade estimada.
Carla Argenta tem a mesma visão. “De acordo com o BCB, o crescimento do consumo das famílias e o nível do emprego doméstico promovem uma demanda excessivamente elevada sobre a estrutura produtiva da economia brasileira”, diz. “Os dados do mercado de trabalho, que mostram a queda sistemática do desemprego acompanhado da queda do número de desalentados e do avanço dos salários nominais, reforçam esse cenário”.
Incertezas sobre política fiscal e o peso do dólar
A política fiscal também exerce papel central na expectativa por uma postura mais rigorosa do Copom. O recente anúncio de medidas fiscais pelo governo gerou desconfiança no mercado quanto à sustentabilidade das contas públicas, provocando impactos negativos nos preços dos ativos e intensificando a pressão cambial. Segundo Carla Argenta, esse cenário agrava as preocupações sobre a inflação, já que a depreciação do real eleva o custo de produtos importados e, consequentemente, os índices de preços.
Desde a última reunião do Copom, em novembro, a cotação da moeda americana superou os R$ 6, com incertezas sobre a política fiscal do governo.
Cenário externo: uma variável adicional
O ambiente internacional também adiciona complexidade à decisão. A incerteza sobre a política monetária norte-americana e o impacto das políticas econômicas de Donald Trump, reeleito recentemente, intensificam a volatilidade nos mercados globais e afetam diretamente a economia brasileira.
Possibilidade de alta maior
Enquanto economistas como Carla Argenta e Harrison Gonçalves acreditam em uma elevação de 0,75 ponto percentual, Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos, sugere que o Copom pode optar por uma alta de 1 ponto percentual. “A alta de juros implícita na curva de juros indica que o Copom deve subir os juros em 100 bps”, diz ele. “Um aumento menor do que o precificado pelo mercado poderia trazer mais estresse e, eventualmente, gerar desconfiança no compromisso do novo presidente do BC, Galípolo, com o controle da inflação”.
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