Nesta semana, completou um ano desde que o Caso Americanas abalou o mercado brasileiro. Em 11 de janeiro de 2023, o então presidente da companhia, Sergio Rial, renunciou ao cargo após identificar um rombo de ao menos R$ 20 bilhões no balanço contábil.
Um dia após a revelação, as principais instituições financeiras colocaram as ações da Americanas (AMER3) sob revisão. Em um relatório, a Genial Investimentos, por exemplo, alterou sua recomendação de compra para venda e reduziu o preço-alvo de R$ 28,40 para R$ 9,40.
Por conta da alta volatilidade, os papéis ordinários da Americanas entraram em leilão na bolsa. Mesmo assim, o tombo no dia após o anúncio chegou a 77,33%. Dias depois a empresa entrou com pedido de recuperação judicial e anunciou dívida de mais de R$ 40 bilhões com mais de 8 mil credores.
Em novembro, a companhia firmou um acordo com seus principais credores financeiros em torno do seu plano de recuperação judicial. A varejista receberá uma injeção de capital de R$ 24 bilhões, sendo R$ 12 bilhões dos acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira – e outros R$ 12 bilhões em conversão de dívida por parte dos credores.
Primeiros impactos nos investidores
De imediato, o primeiro impacto gerado pela crise foi o da perda de recursos financeiros. Tanto investidores de ações, debêntures ou fundos de investimentos que envolvia a Americanas viram seu dinheiro encolher.
“A ação das Americanas despencou, com perda de quase a totalidade de seu valor, em poucos dias. Os debenturistas – investidores que emprestaram dinheiro para a Companhia – estão vendo agora seus créditos pulverizados. O mais perverso impacto, contudo, é nos que investiram em Fundos de Investimento e Fundos de Pensão”, afirma Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa.
Mas, segundo Silva e Roberto Gonzalez, especialista em Governança Corporativa, o principal impacto foi a perda de confiança do investidor. “O investidor confiou e viu que não podia fazê-lo mesmo em balanços auditados por empresas que deveriam certificar a confiabilidade dos documentos contábeis”.
“Uma laranja podre não significa que todas são, mas gera uma desconfiança dos investidores no setor. Gerou uma grande desconfiança no mercado de capitais sobre se as demonstrações contábeis estão realmente sendo fidedignas à realidade do que ocorreu na organização”, destacou Gonzalez.
Esse descrédito gerado acendeu uma luz vermelha também no mercado de crédito. Somado a situações no exterior, o termo crise de crédito começou a ganhar espaço, e apesar de não ter se concretizado de forma generalizada, as empresas brasileiros enfrentaram dificuldade para conseguir novos recursos no mercado de capitais.
Outro respingo se deu no setor da companhia, o varejo. Segundo José Simão, sócio da Legend Investimentos, a situação de perda de confiança agravou ainda mais um setor que já sofria bastante, principalmente por conta da inflação elevada nos últimos anos e dos juros restritivos, que fizeram com que as margens de lucro dessas empresas diminuíssem.
Americanas em números atualmente
Segundo levantamento da Quantum Finance, um ano após o desencadear da crise, a Americanas viu sua ação em bolsa cair 92,70%. Com isso, seu valor de mercado saiu de R$ 10,8 bilhões para atuais R$ 785 milhões.
O presidente do Instituto Empresa ainda afirma que o caso Americanas está longe de ser resolvido. A empresa ainda precisa divulgar os balanços de 2023 e a Comissão Independente precisa concluir sua investigação.
Lições aos investidores
De toda a situação, algumas lições importantes ficam a todos os investidores. Silva ressalta que o investimento não é um ato passivo e concentrado num momento da vida. Ao contrário, ele é dinâmico e deve se estender para toda a duração daquele aporte.
“Os investidores aprenderam que precisam desconfiar daquilo que parece muito certo e que, ao mesmo tempo, precisam ser articulados seja na participação das votações da Companhia, seja na cobrança de seus direitos”, reforça.
Já para o especialista em governança corporativa, o que precisa ficar claro, apesar dos aprendizados servirem para todos os investimentos, é que a crise foi de uma companhia e não do mercado de capitais ou do setor de varejo como um todo.
“Assim que isso ficar 100% claro, a gente tem a retomada da confiança, do desenvolvimento, do crescimento e do aprimoramento do nosso mercado de capitais”, completa.