A demissão de Jean Paul Prates da Petrobras amplia uma longa lista de trocas no comando da maior empresa brasileira em valor de mercado: a estatal chegará à marca de oito presidentes em um período de oito anos. Foram dois nomes durante a gestão Michel Temer (PMDB), quatro no governo Jair Bolsonaro (PL), e agora dois sob Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os números evidenciam os interesses, muitas vezes conflitantes, da União, controladora da petrolífera, e dos acionistas privados. A estatal tem ações listadas nas Bolsas de Valores de São Paulo, Buenos Aires e Nova York. No total, são mais de 860 mil acionistas.
Em meio às notícias sobre a saída de Prates e a confirmação da sucessora, a ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) Magda Chambriard, os papéis da empresa fecharam a terça-feira em queda de mais de 7% no after market de Nova York.
Trocas na Petrobras
Essa intensa troca de bastão na estatal – vista como fonte de instabilidade para os negócios – ganhou mais destaque a partir de 2016, quando o engenheiro Pedro Parente assumiu o comando da companhia prometendo exatamente colocar fim à influência política na gestão da petrolífera.
À época, a empresa vinha de uma sequência de prejuízos bilionários, em meio ao congelamento de preço dos combustíveis, promovido pelo governo Dilma Rousseff, e os desdobramentos da Operação Lava Jato. Para reverter esse cenário, Parente instituiu uma política de preços calcada na paridade internacional, que considerava, dentre outros fatores, o valor do barril do petróleo e a cotação do dólar.
Os indicadores da companhia tiveram notável melhora, mas a oscilação diária do preço do combustível acabou sendo o estopim para uma ampla greve de caminhoneiros, que paralisou o País em maio de 2018 e culminou no pedido de demissão de Parente, entregue ao então presidente da república Michel Temer.
Parente foi substituído por outro engenheiro: Ivan Monteiro, que havia entrado na Petrobras em 2015, levado pelo presidente da estatal à época, Aldemir Bendine, o qual acabou sendo preso pela Lava Jato. Monteiro tinha construído sua carreira no Banco do Brasil, onde chegou a ser cotado para assumir a presidência.
Com a chegada de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto, em 2019, Roberto Castello Branco assume o comando da estatal, indicado pelo ex-ministro da Economia Paulo Guedes. Apesar do ministro de discurso liberal, Bolsonaro repete práticas do passado e demite Castello Branco em meio a pressões de caminhoneiros – grupo de apoiadores fiéis do então governo. A demissão se deu pelas redes sociais, em abril de 2021.
Na ocasião, Guedes afirmou que as estatais que possuíam ações em Bolsa eram uma “farsa” e uma “anomalia”. Na avaliação dele, elas não eram “nem tatu nem cobra” e era impossível à companhia agradar ao governo, com suas preocupações sociais, e ao mercado, que quer maximizar o lucro.
Castello Branco foi então substituído pelo general da reserva do Exército Joaquim Silva e Luna, que ficou apenas um ano no cargo. A fritura de Silva e Luna começou com a explosão dos preços dos combustíveis com a guerra na Ucrânia, que levou a uma nova insatisfação social com os preços praticados nas bombas.
À época, Bolsonaro chegou a indicar o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, ao cargo. Pires, porém, declinou devido a conflitos de interesse.
Depois do fracasso da indicação, o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, fez um movimento para emplacar um homem de sua confiança: José Mauro Coelho, o seu “braço direito”, que assumiu em abril de 2022.
Dois meses depois, no entanto, Coelho pediu demissão. O pedido ocorreu três dias após Bolsonaro reagir ao anúncio de reajuste dos combustíveis por parte da estatal e sugerir a criação de uma CPI para investigar diretores da empresa e o conselho de administração. A renúncia de Coelho abriu espaço para que Caio Paes de Andrade, então secretário especial de desburocratização do Ministério da Economia, assumisse o cargo.
Com a derrota de Bolsonaro nas urnas, Paes de Andrade aceitou o convite para assumir a Secretaria de Gestão e Governo Digital do governo de São Paulo, que passaria a ser chefiado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de Bolsonaro. Com o objetivo de tapar esse buraco momentâneo, o então diretor-executivo de Desenvolvimento da Produção, João Henrique Rittershaussen, foi nomeado presidente interino.
Até que, em janeiro de 2023, com o retorno de Lula ao poder, o ex-senador petista Jean Paul Prates assume o comando da empresa, posto em que ficou por 16 meses.
Nesse período, Prates alterou a política de preços da petrolífera, trazendo elementos internos à metodologia, que segue sendo considerada nebulosa pelo mercado, mas que não significou uma ruptura abrupta. A empresa teve bons resultados, alcançando o segundo maior lucro da história ao longo de 2023, e começou a diversificar sua atuação, com foco em novas energias.
Mas Prates, segundo interlocutores, foi inábil politicamente e colecionou atritos com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), além de não conseguir atender às expectativas de Lula por maiores investimentos.
*Bianca Lima/Agência Estado