Na próxima Super Quarta, o mercado estará mais atento às palavras do que aos números. No dia 31 de julho, tanto o Banco Central do Brasil quanto o Federal Reserve dos Estados Unidos divulgarão suas decisões sobre política monetária. Ninguém espera surpresa nas decisões em si: o consenso é de uma manutenção da Selic em 10,50% ao ano e dos Fed Funds na faixa entre 5,25% e 5,5%. Isso não quer dizer que o dia será morno. Investidores, gestores e analistas deverão avaliar no detalhe as comunicações das duas autoridades monetárias para tentar prever quais os próximos passos.
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No Brasil, o cenário mudou desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). “Uma das razões de o BC ter parado de reduzir os juros foi o fiscal. Mas, uma vez que o câmbio bateu em quase R$ 5,70, o governo mostrou indicações de que não mudaria a meta [de resultado fiscal] e que faria corte de gastos”, lembra Rafael Yamano, economista da SulAmérica Investimentos. “Isso inicialmente foi bem recebido pelo mercado, mas o problema é que não é suficiente. É preciso fazer mais para chegar na meta, e fica a dúvida sobre se o governo vai perseguir o déficit zero no ano que vem”, diz.
Outro ponto de atenção são os dados da atividade econômica no Brasil. Na última reunião, o Copom citou sinais de que a atividade está mais forte, acima do que seria considerado neutro. “E os dados dos últimos 30 dias mostraram isso. Apesar do desastre no Rio Grande do Sul, não houve queda. Os números de produção industrial, varejo e serviços continuaram a subir, e com isso, as projeções para o PIB voltaram a subir. Isso mostra a economia voltando a se aquecer”, diz o economista.
“A taxa de desemprego continuou caindo, está em níveis que a gente não vê desde a metade de 2014, e isso deve levar o Copom a uma visão mais hawkish, apesar da melhora do fiscal”, diz Yamano. A visão mais hawkish a que ele se refere aqui significa a tendência a uma política monetária mais dura e preocupada com o controle da inflação.
Além disso, o economista da SulAmérica espera que o comunicado da próxima quarta-feira mantenha ou até mesmo reforce a indicação de que o Copom vai continuar “cauteloso e atento a eventuais ajustes futuros na taxa”. Segundo ele, isso pode levar à interpretação de que a autoridade monetária mantém a porta aberta para eventualmente subir os juros ainda em 2024. “Nós não achamos que isso vai acontecer, mas é um risco”, completa. “A principal razão dessa dúvida sobre se o BC vai ter que voltar a elevar a Selic, além do câmbio, é a atividade. A inflação, por enquanto, parece estar caminhando em linha com a expectativa“.
Gabriel Barros, economista chefe da ARX Investimentos, entretanto, pondera que o BC “se depara com um balanço de riscos cada vez menos simétrico em razão da piora da percepção fiscal, contágio cambial e desconfortável desancoragem das expectativas de inflação”.
Segundo ele, há uma expectativa de que o balanço de riscos seja alterado, “mas dada a última comunicação, esse ainda não parece ser o cenário da maioria dos membros do Copom, apesar desta assimetria ser consensual na média dos agentes de mercado”. Para Barros, as perspectivas quando ao resultado fiscal, o câmbio e expectativas de inflação têm piorado desde a última decisão.
“Nesse cenário, acredito que o BCB terá que subir juro em resposta a deterioração da política fiscal, cujo delivery concreto e rápido é condição necessária para evitar uma nova desorganização econômica”, diz Barros.
Caio Schettino, head de alocações da Criteria, por outro lado, acredita que muito das próximas decisões do Copom depende das movimentações de juros lá fora. “Se a gente joga fora de sincronia com os Estados Unidos, é muito perigosa a vazão que pode acontecer no câmbio”, diz. “O dólar pode testar patamares que a gente não vê desde a pandemia. A gente está refém desse movimento externo pelo menos até o fim do ano”, afirma, indicando que os principais drivers para o segundo semestre são as eleições nos EUA e o ritmo de corte de juros por lá.
E o Fed?
Yamano, da SulAmérica, explica que os membros do Fomc devem avaliar os dados mais recentes de inflação, que melhoraram e vieram até abaixo do esperado. “Mas nenhum deles fala que é suficiente para cortar os juros agora em julho, o que se espera é uma queda em setembro”, diz.
Há, entretanto, um maior foco agora sobre os dados de atividade e, principalmente, desemprego. “O Fed tem o mandato dual, de pleno emprego e inflação na meta. Hoje, o emprego está mais preocupante”, diz Yamano.
“Para o Fed, após o retorno do mercado de trabalho para o seu nível de equilíbrio observado no período pré-Covid e as últimas divulgações positivas para o número de inflação, a orientação é ter paciência e ir ganhando convicção sobre o processo de desinflação conforme os dados a serem divulgados no futuro próximo”, diz Barros, da ARX. “O objetivo é evitar um novo erro de julgamento, como o que ocorreu no início deste ano, após uma reversão da inflação no começo do ano ter vindo na esteira de seis meses de dados positivos”.
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