O boletim Focus desta segunda-feira (9) projeta uma elevação da taxa básica de juros, a Selic, para 11,25% ao ano no fim de 2024. Esta é a primeira vez que o boletim aponta uma elevação nos juros após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em julho, quando o colegiado votou pela manutenção da Selic em 10,50% ao ano, de forma unânime. O Focus é uma publicação semanal do BC com as expectativas do mercado para os principais indicadores econômicos. Caso a alta se concretize, economistas esperam impactos no consumo das famílias, acesso ao crédito e mais volatilidade no mercado financeiro.
Uma das razões para a expectativa de aumento na Selic é a inflação. O mercado passou a projetar que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) irá encerrar o ano em 4,30%, de 4,26% na semana anterior, conforme o boletim. Esse patamar é superior ao centro da meta, de 3% ao ano.
Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, ressalta que o resultado positivo do PIB do segundo trimestre – aumento de 1,4% em comparação com o primeiro trimestre deste ano – superou as estimativas e contribuiu para a expectativa de alta da Selic. “Isso sugere uma economia mais aquecida que pode demandar juros mais altos para conter a inflação. Além disso, a projeção do dólar subindo para R$ 5,35 ao final do ano aponta para possíveis pressões cambiais. Este cenário desafia o Banco Central a equilibrar o controle da inflação com o estímulo ao crescimento econômico, tornando as próximas reuniões do Copom cruciais para a definição da trajetória econômica do país.”
Os analistas ouvidos pelo Focus também elevaram a projeção para o PIB de 2024, de 2,46% na semana passada para 2,68% hoje. Há quatro semanas, a expectativa era de um crescimento mais modesto, de 2,20%.
Mais volatilidade
Outro impacto a ser observado, segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, é na volatilidade do mercado financeiro. “Isso também impacta a renda variável, já que a elevação da Selic tende a desvalorizar as ações e aumentar o custo do crédito, afetando diretamente empresas e consumidores. Com um cenário de inflação persistente e a Selic em elevação, a volatilidade no mercado de ações deve se intensificar, tornando os ativos de renda fixa mais atraentes para os investidores em comparação com a renda variável.”
No segundo trimestre deste ano, o número de investidores pessoas físicas com investimentos em renda fixa cresceu 7% comparado ao mesmo período do ano passado, segundo dados da B3. Já o total de pessoas na Bolsa de Valores passou de 16,5 milhões para 17,7 milhões em 12 meses.
Essa pressão sobre a renda variável deve ser mais evidente nos setores mais sensíveis ao custo de capital, que, segundo ele, são o da construção civil e o varejo. “Por outro lado, o crescimento do PIB visto na divulgação sinaliza uma resiliência da economia brasileira, o que pode suavizar parte dos impactos negativos da alta dos juros, mantendo o mercado acionário atrativo em setores de commodities e exportadores”, complementa.
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, também lembra do impacto que uma Selic mais elevada teria sobre a dívida. “Esses dados evidenciam a complexidade do cenário econômico brasileiro, onde a inflação moderada, aliada ao crescimento do PIB, pode ser um sinal positivo, mas a trajetória da dívida e as taxas de juros elevadas demandam ajustes para garantir a sustentabilidade fiscal no longo prazo.”
Consumo e crédito
Uma política monetária mais rígida pressiona o consumo das famílias e pode impactar a disponibilidade de crédito. “Esse panorama exige cautela por parte dos investidores e empresários, pois a combinação de juros altos e inflação pressionada pode desacelerar o crescimento econômico, embora o Brasil continue mostrando resiliência em alguns setores, como a balança comercial, que manteve boas projeções”, explica André Colares, CEO da Smart House Investments.
O Copom vai se reunir nos dias 17 e 18 deste mês para definir a taxa Selic, e sacramentar ou não as expectativas projetadas pelo boletim Focus.
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