A emissão de R$ 2,5 bilhões de debêntures da Sabesp nesta semana é a segunda do País de títulos conhecidos como “blue bonds”. Além dos títulos azuis, nos últimos anos, o mercado financeiro tem assistido a um crescimento significativo dos títulos sustentáveis, como os Green Bonds. Esses instrumentos de dívida vêm ganhando destaque entre investidores que buscam, além de retorno financeiro, mitigar riscos associados a questões ambientais e sociais.
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De acordo com Ricardo Assumpção, sócio líder de Sustentabilidade e CSO Latam da EY, o apelo desses títulos vai além da rentabilidade imediata. “Os títulos verdes são instrumentos financeiros de dívida, emitidos por entidades públicas ou privadas que têm um objetivo específico de captar recursos para financiar projetos que de alguma forma vão ter impacto com um benefício ambiental”, explica. O espectro é amplo e vai desde proteção à biodiversidade até projetos para energia limpa. Já os blue bonds nasceram “como um filhote dos green bonds”, para projetos relacionados especificamente à água, como saneamento e proteção de ecossistemas marítimos.
Para os investidores, a escolha por esses papéis envolve mais do que apenas a perspectiva de ganhos. “Existe um trade-off entre crescimento de longo prazo ou resultado de curto prazo. A resposta para isso é sustentabilidade”, afirma Assumpção. Investidores interessados em proteger seu capital contra pressões crescentes, como mudanças climáticas, tendem a buscar esses títulos, diz ele. A rentabilidade pode ser um pouco menor quando comparada a outros investimentos, mas a proteção contra riscos futuros busca compensar isso.
Além disso, o especialista ressalta que a Europa está muito à frente nesse tema, com uma grande quantidade de fundos destinados a projetos de descarbonização e economia sustentável. Esse fluxo de capital, que inclui também apoio dos Estados Unidos, tem fomentado um ambiente positivo para o financiamento de iniciativas sustentáveis no Brasil. O desafio, segundo ele, está na escala: “precisamos de mais projetos que possam receber esse capital”, diz.
O advogado especializado em mercado de capitais Marcelo Godke lembra ainda que os títulos verdes e azuis tendem a ter certificações específicas que garantam o objetivo sustentável. “Assim, os investidores têm a garantia de que os recursos estão sendo aplicados em projetos que têm impactos ambientais ou sociais diretos”, explica.
Do ponto de vista do investidor, outro diferencial desses títulos é a possibilidade de contribuir para causas ambientais e sociais sem abrir mão da segurança. “Há um interesse crescente por parte de investidores que querem associar seus ganhos a iniciativas de preservação ambiental ou impacto social, sem comprometer o retorno financeiro”, afirma Godke.
O que avaliar antes de investir em green bonds?
Para quem está considerando investir em Green ou Blue Bonds, Ricardo Assumpção alerta sobre a importância de fazer uma avaliação dos fundamentos da empresa e estudar a capacidade da companhia para gerar caixa a partir de suas iniciativas sustentáveis. “O investidor precisa entender se a geração de caixa está ligada a efeitos colaterais positivos para a sociedade e o planeta”, diz. Isso significa que, além de verificar a saúde financeira da empresa emissora, é necessário avaliar como ela está integrando a sustentabilidade em sua estratégia de negócios.
A gestão de riscos climáticos também é um fator-chave. Assumpção explica que os títulos sustentáveis são uma maneira de proteger o capital em um cenário de pressão regulatória e climática. “As empresas que não adotarem práticas sustentáveis perderão sua capacidade de gerar lucros no futuro”, alerta. Segundo ele, isso faz parte de uma agenda de gestão de riscos que, quando bem implementada, também pode impulsionar a inovação dentro das empresas, tornando-as mais eficientes e preparadas para enfrentar as mudanças no mercado.
Para o investidor pessoa física, Marcelo Godke sugere atenção aos critérios de emissão dos títulos e à certificação das empresas. “É importante buscar informações consistentes e verificar o histórico de sustentabilidade da empresa, sua capacidade de gerar caixa e seu comprometimento com metas ambientais ou sociais”, aconselha.
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