A renda fixa é conhecida por ser um investimento mais conservador no mercado de capitais. Ainda assim, os riscos em torno dos produtos financeiros existem e devem ser levados em conta pelo investidor pessoa física antes de alocar recursos. Resgatar antes do vencimento, não avaliar o risco de inadimplência do emissor dos títulos, ou seja, o risco de crédito, e ignorar as condições de mercado estão entre os motivos que levam à perda de dinheiro, segundo especialistas.
No segundo trimestre, o número de novos investidores pessoa física com posições em renda fixa cresceu 7% comparado com o mesmo período do ano passado, conforme dados da Bolsa de Valores do Brasil, B3. O total de investidores na Bolsa passou de 16,5 milhões para 17,7 milhões em 12 meses.
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O que torna a renda fixa atrativa, além da segurança e isenção de impostos em alguns títulos, é a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para alguns produtos, como LCI, LCA e CDB. O fundo protege até R$ 250 mil por conglomerado financeiro e até R$ 1 milhão por CPF, mas nem todos os produtos financeiros fazem parte dessa cesta de proteção. Esse é um dos riscos destacados pelos especialistas.
Atenção ao FGC
Os produtos como CRIs, CRAs e debêntures não são protegidos pelo FGC. São neles que o investidor precisa ficar mais atento antes de decidir aportar. Nesse caso, é necessário tomar algumas medidas para minimizar a exposição a riscos, de acordo com Pedro Persichetti, especialista em mercado financeiro e CSO da Sail Capital. “O investidor deve evitar concentrar grandes quantias em um único emissor, especialmente se for coberto pelo FGC, para garantir que seus investimentos estejam protegidos dentro dos limites. A diversificação é fundamental. Aplicar em diferentes tipos de produtos e emissores ajuda a reduzir os riscos, distribuindo as possíveis perdas em diferentes ativos”.
A cautela é fundamental nessa hora, conforme Gabriel Gouveia, especialista em alocação. “Essas dívidas [dos ativos sem FGC] têm infinitas especificidades e devem ser analisadas com alta cautela. Garantias, opções embutidas, momento financeiro da empresa, convênios devem ser analisados antes de se fazer uma alocação em renda fixa, principalmente fora do FGC”, afirma.
Outra medida a ser adotada é olhar para a liquidez do ativo. “O mais importante, além de conhecer os riscos envolvidos em cada investimento, é que o investidor também gerencie a liquidez da sua carteira, deixando os recursos necessários para sua reserva de emergência aplicado em investimentos menos expostos às variações de mercado”, observa Marcel Andrade, líder da área de Investment Solutions da SulAmérica Investimentos.
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Cuidado ao resgatar títulos de renda fixa antes do vencimento
A rentabilidade dos produtos de renda fixa depende do momento em que é feito o resgate do título. Isso porque a rentabilidade só será igual àquela prometida na hora da compra se o investidor mantiver o papel até seu vencimento. Ou seja: se você compra um título que paga 14% ao ano com vencimento daqui a um ano, terá essa rentabilidade só se ficar com esse ativo na carteira até a data de vencimento. Se decidir vender antes do prazo, poderá ter um rendimento maior ou menor do que os 14%.
Afinal, caso o investidor decida resgatar o valor antes deste prazo, os rendimentos estarão sujeitos à marcação a mercado, ou seja, os recursos serão corrigidos de acordo com os preços em operação daquele dia do resgate. “Outra forma de perder dinheiro é com a venda antecipada de títulos da renda fixa, caso a marcação a mercado seja negativa, é possível vender um título por menos que ele vale”, destaca Gouveia.
Todos os títulos de renda fixa, contudo, estão sob efeito da marcação a mercado, seja em maior ou menor intensidade, segundo Andrade. “Caso, o investidor tenha necessidade de liquidez para seus investimentos, o ideal é que adquira ativos pós-fixados, que estão menos sujeitos aos efeitos de marcação a mercado. Caso, o investidor não tenha necessidade de liquidez imediata, pode comprar títulos indexados à inflação ou prefixados, mas sempre atento à data de vencimento, já que quanto menor prazo de vencimento desses títulos, uma eventual reprecificação nas taxas de juros tende a ter menos impacto na carteira do investidor, em função da duração mais curta desses ativos”.
Persichetti traz um exemplo neste caso. “Considere os títulos NTN-B [Tesouro IPCA+] do Tesouro Direto com vencimentos mais longos. Quando a taxa Selic subiu de 2% para patamares mais elevados, esses títulos sofreram quedas de mais de 20% no valor de mercado, o que pode resultar em perdas significativas para quem precisou vender antes do vencimento”, diz.
Investimento render menos que inflação
A estratégia de investir é fazer o dinheiro render e não ser corroído pela inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que atualmente está em 4,24% no acumulado de 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Outra forma de perder dinheiro na renda fixa é quando esse investimento rende menos que a inflação, sendo assim, ele tem uma rentabilidade real negativa”, explica Gouveia.
O indicador atrelado ao título é um fator a ser observado na alocação, segundo Persichetti, mas outros detalhes devem ser considerados, como a valorização do dólar frente ao real. “É importante avaliar o custo de oportunidade em relação a outros produtos financeiros ou indexadores. Por exemplo, mesmo que um investimento em renda fixa esteja atrelado ao CDI ou ao IPCA, ele pode render menos do que o dólar, que também pode impactar o poder de compra, caso a moeda americana suba e encareça nossa cesta de consumo”, afirma.
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