Abril trouxe tumulto para o mercado de moedas – não só no Brasil, mas também nas principais economias do globo. A cotação do dólar contra o real saiu da faixa entre R$ 4,90 e R$ 5,05, em que se mantinha durante março, e chegou a se aproximar de R$ 5,30. Segundo analistas, alguns fatores jogaram a favor da valorização da moeda norte-americana, tanto no panorama externo quanto no doméstico. O cenário à frente ainda é incerto. Confira as variáveis que têm sido analisadas de perto pelos especialistas.
Juros nos EUA ajudam a valorizar dólar
Se em dezembro de 2023 as expectativas eram de que o início do ciclo de afrouxamento monetário dos EUA estava próximo, essa euforia mudou rapidamente já no início do ano. Mas no fim de março, o cenário turvou ainda mais.
“A marca principal foi o CPI [indicador de inflação ao consumidor] bem acima do esperado, seguido pelo índice de varejo também acima. Isso foi suficiente para o mercado recalibrar as expectativas de corte”, diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Os novos dados trouxeram dúvidas não só sobre quando começa o corte, mas também sobre a magnitude da redução de juros neste ano.
“O período inflacionário está demorando muito para passar nos EUA, e os EUA exportam inflação para o resto do mundo”, diz Henrique Lucena, sócio e especialista em investimentos offshore da Arton Advisors.
Com o Fed demorando mais a cortar os juros, o dólar tende a se valorizar, já que investidores preferem aplicar seus recursos em títulos do tesouro norte-americano, em vez de em países emergentes.
Oriente Médio traz incertezas
Outro fator que favoreceu a valorização do dólar nas últimas semanas foi o aumento das tensões no Oriente Médio, com os ataques entre Israel e Irã.
O risco de uma escalada no conflito, diz Iglioril, traz preocupações sobre a oferta global de petróleo (apesar de atualmente o cenário não mostrar grandes restrições), e a interrupção ou dificuldades no comércio. “Além disso, aumenta a percepção de risco em si, e as decisões de investimento começam a incorporar isso e os participantes tendem a ficar mais defensivos, olhando para a proteção das posições”, explica.
Por fim, o fator doméstico que pesou contra o real foi a mudança da meta de resultado fiscal, anunciada pelo governo em abril.
“Não é só o fiscal, a percepção é de que o relacionamento do governo com o Congresso está pior”, afirma o economista-chefe da Nomad.
“O resultado em si é ruim, porque está jogando uma pressão a mais para 2025, já sabendo que metas declaradas seriam difíceis de serem atingidas”, diz Igliori. “Mas a mudança em si é pior”.
E agora, o que esperar do dólar?
“Volatilidade é a certeza. Será muito surpreendente se tivermos um momento de estabilidade entre R$ 5,10 e R$ 5,15”, diz Igliori. Entretanto, ele pondera que, para que o dólar tenha nova rodada de apreciação, é necessário “um estresse muito grande” em uma das três variáveis acima.
“A moeda é dos instrumentos mais difíceis de se fazer previsão. Acho que [os investidores] devem ter uma porcentagem do patrimônio em moeda forte”, diz Lucena, da Arton.
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