Os dirigentes do Federal Reserve (Fed) concordaram que o ciclo de aumento das taxas que começou em 2022 provavelmente chegou ao fim, de acordo com a ata da reunião de dezembro, divulgada nesta quarta-feira (03/01/2024). Na visão deles, o nível está no “pico, ou perto dele”.
Ainda segundo o documento, os dirigentes não discutiram quando começariam os cortes nas taxas, mas planejaram três reduções em 2024.
No entanto, os participantes do encontro também observaram que as suas perspectivas estavam associadas a um grau de incerteza elevado e que era possível que a economia pudesse evoluir de uma forma que tornasse apropriados novos aumentos no intervalo-alvo das taxas.
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“A Ata de hoje trouxe, conforme esperávamos, um viés mais ‘hawkish’ justamente para frear o otimismo exacerbado do mercado, que havia contribuído para afrouxar as condições financeiras à revelia da vontade do Fed”, comenta Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos. Segundo ele, a autoridade monetária “busca recuperar o controle das expectativas do mercado através da comunicação”.
O BMO Capital Markets também considerou a comunicação mais dura. O banco canadense chama atenção para a ênfase que o documento trouxe ao recente relaxamento das condições financeiras, que pode adiar o início do ciclo de corte de juros.
A Capital Economics, por outro lado, afirmou que a ata não muda o cenário já esperado pelos investidores e mantém sua expectativa de queda em março. Em nota a clientes, a consultoria afirma que o tom do documento de hoje veio “mais em linha com a mensagem do presidente do Fed, Jerome Powell”, do que com os comentários pós-reunião mais agressivos dos demais dirigentes. A Capital nota que os trechos que destacam cautela na última ata não indicam a preocupação da “maioria” dos dirigentes, mas sim de “vários” deles, e considera que esta escolha de palavras diz muito sobre o otimismo dos membros do banco central americano.
Inflação desacelera, mas permanece elevada
A ata pontua que a inflação tinha diminuído durante o ano passado, mas permaneceu elevada e acima da meta de longo prazo de 2%. Os dirigentes observaram que o progresso foi desigual entre componentes, com os preços da energia e dos bens básicos caindo ou mudando pouco recentemente, mas os preços dos serviços básicos ainda aumentando em um ritmo elevado.
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Outro ponto avaliado como positivo foram os sinais de que as cadeias de abastecimento estão voltando à normalidade e que o mercado de trabalho está começando a relaxar à medida que mais pessoas ingressam na força laboral.
Os dirigentes também disseram que elevar as taxas de juros acima de 5% reprimiu a demanda do consumidor, permitindo que a inflação diminuísse.
Atividade em queda
A ata mostra que os dirigentes avaliam que a atividade econômica dos EUA desacelerou do forte ritmo visto no terceiro semestre. Eles notaram também que a taxa de desemprego continuava baixa, segundo consta na ata do encontro.
Os membros do Fed concordaram também que condições financeiras e de crédito mais restritivas para as famílias e as empresas provavelmente pesariam sobre a atividade econômica, as contratações e a inflação, mas que a extensão destes efeitos era incerta.
Olhando para frente, os dirigentes consideraram que, em 2024, o crescimento real do PIB americano deve arrefecer e que o reequilíbrio do mercado de trabalho deve continuar, com a taxa de desemprego aumentando ligeiramente em relação ao seu nível atual.
Chance de corte de juros em março pelo Fed diminui após ata, mas ainda é majoritária
Após a divulgação da ata, os investidores ajustaram suas posições sobre as perspectivas de cortes nas taxas de juros nos EUA.
Segundo ferramenta FedWatch do CME Group, antes da divulgação do documento, a precificação era de 74,5% de chance de corte em março. Após a ata, o número caiu para 70,8%. Já a chance de que a taxa permaneça na faixa atual ainda em março aumentou de 25,5% a 29,2%.
Para a manutenção dos juros na próxima decisão monetária, no dia 31 de janeiro, o número se manteve inalterado em 91,2%. O mercado ainda vê como cenário mais provável corte de 150 pontos-base nos juros ao longo de 2024, apesar de a chance estimada ter diminuído de 39,2% para 38,4%.
*Com Agência Estado