A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) enfatizou que, além da maior incerteza na conjuntura doméstica, há também grandes indefinições no exterior. Na avaliação dos integrantes do colegiado, o cenário-base não se alterou, mas a maior incerteza torna necessário ter mais cautela com as decisões à frente, que precisam ser ainda mais baseadas nos dados correntes de inflação e atividade.
O colegiado notou que um processo desinflacionário mais lento, tanto domesticamente quanto globalmente, não constitui o cenário-base, mas foi incorporado como fonte de incerteza. “Esse aumento de incerteza prescreve cautela na condução da política monetária”, enfatizaram os integrantes da cúpula do BC.
Na conjuntura internacional, de acordo com o documento, o cenário desinflacionário se mostra mais incerto, em função de um contexto de atividade resiliente nos Estados Unidos e seu impacto nas condições financeiras globais. Além disso, os membros do Copom destacaram que os impactos da política monetária sobre a atividade e a inflação também geram incerteza na velocidade da desinflação em diversos países.
“Com relação à dinâmica inflacionária doméstica, se, por um lado, observamos um comportamento benigno de alimentos e bens industriais, por outro, em função da atividade resiliente e das últimas divulgações, surgem dúvidas na velocidade de desinflação de serviços”, escreveu o colegiado.
A ata de hoje trouxe uma longa análise sobre o mercado de trabalho e os impactos para a inflação e concluiu que as respostas ainda são incertas. “O Comitê relembrou que a incorporação de cenários e variáveis exógenas, como a dinâmica fiscal ou o cenário externo, se dá por meio de seus impactos na dinâmica prospectiva de inflação, sem relação mecânica com a determinação da taxa de juros.”
O documento trouxe o relato de um debate entre os integrantes da cúpula do BC sobre a comunicação em um cenário que se requer maior flexibilidade para conduzir a política monetária apropriada para o atingimento da meta de inflação. “O cenário-base não se alterou substancialmente, mas, com as incertezas do cenário, julgou-se apropriado ter maior flexibilidade de política monetária”, informou a ata.
Copom ainda mais “dependente de dados”
Na mesma linha que já vêm argumentando em eventos públicos, os integrantes do Copom escreveram na ata da última reunião que estão cada vez mais data dependent, ou seja, dependentes das informações correntes mais atualizadas. Em especial, de acordo com o documento, para definir a taxa terminal da Selic.
“O Comitê avalia que as informações trazidas por atualizações dos conjuntos de dados analisados serão particularmente importantes para definir o ritmo e a taxa terminal de juros”, trouxe a ata.
Foward guidance
Na reunião passada, o colegiado retirou a sinalização de que manteria o ritmo de corte da Selic em 0,50 ponto porcentual pelos próximos encontros – o plural – e manteve apenas a indicação de que o passo poderia ser mantido apenas na reunião de maio. O colegiado chegou a discutir a possibilidade de dar alguma sinalização para a decisão de junho.
Apesar de terem salientado no comunicado que se seguiu à decisão de cortar a Selic, a manutenção do mesmo ritmo no próximo encontro, o comitê diminuiu o prazo do forward guidance, mas enfatizou que o cenário não havia se alterado substancialmente. Esses pontos, juntos, deixaram alguns analistas do mercado financeiro intrigados. Agora, na ata de hoje, o colegiado explicou que a alteração reflete somente uma análise de custo-benefício da utilização desse instrumento adicional de política monetária (o forward guidance).
Mais do que isso, o Copom reforçou que seria um “equívoco” interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base.
*Com informações da Agência Estado