A Casas Bahia entrou ontem com pedido de recuperação extrajudicial para dívidas que somam R$ 4,1 bilhões. O pedido já é pré-acordado com os principais credores, que detém 54,5% dos débitos e, portanto, deve ser aplicado também aos demais credores pulverizados, dentre eles, pessoas físicas. O montante renegociado, que envolve a 6ª, 7ª, 8ª e 9ª séries de debêntures, tinha custo médio de CDI +2,7% e prazo de 22 meses. Agora, o custo está em CDI + 1,2%, em um prazo de 72 meses.
Nos cálculos da empresa, o novo perfil da dívida preserva R$ 4,3 bilhões de caixa até 2027, sendo R$ 1,5 bilhão somente em 2024. Como contrapartida, os principais bancos credores ganham o dinheiro de converter 63% dos valores que lhe são devidos em ações da varejista.
A rede de varejo criada em 1952 hoje tem capital pulverizado na Bolsa, sendo que a família Klein, fundadora da empresa, detém cerca de 24% das ações da empresa. Assim como outras empresas do segmento varejista, a Casas Bahia enfrenta dificuldades com a concorrência de empresas internacionais agressivas, como Amazon e Shopee.
Além de afetar o desempenho das ações da Casas Bahia hoje, a notícia pode refletir negativamente também no mercado varejista. Recentemente, as varejistas Petz e Cobasi anunciaram intenção de promover uma fusão entre as duas empresas, como forma de reduzir os gastos gerados pela concorrência entre as duas e focar nos ganhos de sinergia.
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Margens apertadas, juros altos
Para Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, a situação das casas Bahia não é um privilégio e uma particularidade dela. Ele explica que o setor de varejo, de eletrodomésticos e afins, no Brasil, já vem, há muitos anos, com um modelo de negócio de margens muito estreitas. Ou seja, o limiar entre o lucro e o prejuízo é muito apertado.
“Se isso não bastasse, com a oscilação de demanda e com a necessidade de financiamento e caixa, em razão dos altos estoques e de uma operação muito onerosa, essas empresas contraíram dívidas.
E essas dívidas se mostraram muito nocivas com o aumento dos juros recente, fazendo com que operacionalmente os resultados fossem afetados e comprometidos só pelo custo de se rolar a dívida”, comenta o economista.
O CEO da Casas Bahia foi muito feliz, inteligente e persuasivo, na opinião de Bruno Corano, em conseguir renegociar mais de 80% das dívidas financeiras com os bancos, principalmente Banco do Brasil e Bradesco, e jogar para muito lá para frente, dando um fôlego enorme para que a empresa possa se dedicar à operação e tentar encontrar as melhores soluções para os desafios próprios do negócio. “A empresa, historicamente, sempre ganhou mais na operação financeira do que propriamente na venda dos produtos, o que hoje vem se mostrando um modelo cada vez mais difícil”, conclui.
*Com informações da Agência Estado