As tensões no Oriente Médio, principalmente entre Israel e Irã, provocam diversos temores na população mundial. Além da crise humanitária, uma possível escalada no conflito entre os países pode afetar também a economia ao redor do globo.
Numa possível guerra, o principal ponto de preocupação do mercado é o petróleo porque, de acordo com Paulo Feldmann, professor da FIA Business School, o Oriente Médio é onde estão localizados os poços mais importantes do mundo da commodity.
“A produção de petróleo na região é altíssima e um conflito certamente provocaria problemas como falta do produto ou aumento acentuado do preço. E isso impacta a inflação nos países mais importantes do mundo”, destaca ele.
Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, ressalta que o Irã é o terceiro maior produtor da OPEP, e qualquer interrupção em seu fornecimento pode elevar significativamente os preços. No início de outubro de 2024, o barril de petróleo Brent já registrou um aumento significativo em meio à preocupação com a escalada do conflito.
“Além disso, em cenários mais extremos, como a interrupção [da navegação] no Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 21% do petróleo mundial, os preços poderiam subir para além de US$ 100, com implicações devastadoras para a inflação global”, diz Lima.
Na terça-feira, 8 de outubro, na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para novembro fechou em queda de 4,63% (US$ 3,57), a US$ 73,57 o barril, após uma sequência de cinco altas seguidas. O Brent para dezembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), caiu 4,63% (US$ 3,75), a US$ 77,18 o barril, depois de sete sessões seguidas de altas.
Uma análise feita pela Moody’s sugere que a volatilidade no mercado de petróleo deve persistir “bastante elevada” enquanto não houver uma resolução maior da guerra.
Conflito no Oriente Médio e inflação mundial
Segundo o professor, esse crescimento acentuado da inflação, em geral, provoca uma recessão (diminuição do ritmo de atividade econômica), porque os próprios governos dos países, para combater a alta dos preços, aumentam a taxa de juros. E o aumento da taxa de juros, justamente, diminui a atividade econômica.
“Havendo esse problema no mundo, uma inflação, uma recessão, isso afeta o Brasil imediatamente. A economia brasileira caminha exatamente de acordo com a economia mundial. Quando há crescimento na economia mundial, o Brasil cresce. Quando há recessão, o Brasil entra em recessão ou diminui a sua atividade. Então, a resposta é: o impacto será muito sério caso haja uma escalada”, alerta Feldmann.
Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, ressalta também os impactos no mercado de commodities, em particular combustíveis e energia. “Isso impacta diretamente o transporte e toda a logística de commodities ao redor do globo. Esse cenário preocupa tanto a China quanto os Estados Unidos, pois ambos são mercados fundamentais que impulsionam a economia e representam uma parte significativa do comércio de matérias-primas, com a preocupação central relacionada à inflação”.
Impactos nos investimentos
Uma possível recessão mundial ou uma diminuição do ritmo de atividade, diz o professor da FIA Business School, levaria as empresas a redobrar os cuidados antes de investir em projetos, como o aumento da produção.
“Eles começam a se preocupar muito com o retorno desses investimentos, que nessas situações costuma demorar mais, e é possível que haja uma grande redução nos investimentos produtivos, feitos pelas multinacionais, os chamados FDI (Foreign Direct Investment)”, aponta ele.
O analista CNPI da Ouro Preto Investimentos ainda aponta que a busca por ativos de proteção, como ouro e dólar, também cresce em momentos de incerteza geopolítica, o que já tem sido observado nos mercados de câmbio, com a valorização do dólar frente a outras moedas.
Outra alternativa para quem busca segurança, segundo Paulo Feldmann, são os títulos do governo dos EUA. Ele explica que se há uma escalada no conflito no Oriente Médio, e por consequência, da inflação, isso pode levar o governo norte-americano a aumentar as taxas de juros, o que deixa os títulos de renda fixa do país ainda mais atraentes.
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