sábado, 23 de novembro de 2024
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Como e porque o vai e vem das contas públicas interfere nos seus investimentos

Nosso objetivo é incluir mais emissores e investidores no mercado de capitais, diz presidente da CVM

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Entra ano e sai ano, entra governo e sai governo, e a discussão em torno da necessidade de ajuste nas contas públicas continua impactando os investimentos dos brasileiros. O tema se mostra especialmente sensível neste final de ano, em meio à descrença dos investidores de que o governo Lula conseguirá reverter, na segunda metade do seu mandato, a alta na dívida pública. 

Em setembro, a dívida foi equivalente a 78,3% do PIB, segundo dados do Banco Central divulgados nesta segunda-feira, bem acima dos 71,3% do PIB do início de 2023. 

Como esse aumento está relacionado com a expansão das despesas, todos os olhos se voltam às negociações por um pacote de corte de gastos. 

Nesta segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está em Brasília para tentar destravar as medidas, que estão sendo negociadas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Mas afinal de contas, por que a política fiscal afeta tanto as taxas de juros, o dólar e as ações?

Do resultado primário à dívida pública 

Em primeiro lugar, é importante entender o conceito de resultado primário, que é similar ao que acontece nas finanças pessoais de todos nós.

Se a renda de uma família é de R$ 20 mil por mês, mas os gastos mensais somados são de R$ 25 mil, por exemplo, há um problema. Para resolvê-lo, ou é necessário um aumento de salário (no caso do governo, a principal fonte de recursos é a arrecadação de impostos) ou um corte nas despesas. 

Se não é possível nem cortar gastos nem elevar a receita dessa família, a alternativa é pedir um empréstimo. E nessa hora o credor vai estipular o quanto quer receber de juros: quanto maior o risco de não pagamento, maior a taxa que cobrará. 

É o mesmo raciocínio para países, que precisam recorrer a empréstimos quando não conseguem equilibrar suas contas. Dessa forma, o resultado primário é calculado com base na soma de todas as receitas menos todas as despesas – dessa conta, se retira o pagamento de juros. 

Assim, se chega a um bom indicador da saúde financeira de um país: quanto o governo consegue economizar (ou não) para quitar os juros da sua dívida. Se a conta é positiva, temos um superávit primário. Se é negativa, um déficit primário. 

No acumulado do ano até setembro, o déficit primário brasileiro foi de R$ 105,1 bilhões, segundo dados do Tesouro Nacional, um aumento de 7,4% em termos reais (descontada a inflação) em relação ao rombo registrado no mesmo período do ano passado. 

Esse aumento do déficit foi devido ao fato de que, no período, a receita aumentou em R$ 94,2 bilhões, mas as despesas cresceram em R$ 101,4 bilhões.

Com uma dívida de 78,3% do PIB (R$ 8,9 trilhões), segundo dados do BC referentes a setembro divulgados hoje, o Brasil corre o risco de voltar a ultrapassar o patamar de uma dívida equivalente a 80% do PIB. 

Esse é o nível acima do qual, na avaliação de economistas, uma dívida manejável começa a ser considerada insustentável.

Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos e especialista em contas públicas, estima que o governo precisaria de um corte de pelo menos R$ 40 bilhões em despesas em 2025 como “a primeira etapa de um plano crível de ajuste gradual” na direção da estabilização da dívida. 

“Como há forte resistência da classe política a cortes, talvez o governo acredite que a promessa do primário zero possa conciliar essa resistência com a necessidade de melhorar as expectativas quanto à sustentabilidade fiscal, com efeitos positivos sobre indicadores econômicos como câmbio e juros”, aponta ele. 

Impacto sobre o mercado 

E o que as contas públicas têm a ver com os seus investimentos? Quando o risco de descontrole da dívida de um país aumenta, os investidores querem taxas de juros maiores na hora de comprar títulos públicos – ou seja, na hora de emprestar dinheiro ao governo. Esses juros mais altos são o preço cobrado pela incerteza. 

Além da renda fixa, que fica mais atrativa, os juros afetam a Bolsa. Isso porque o valor de uma empresa é estimado pelo fluxo de caixa futuro, trazido a valor presente por uma taxa de desconto, que geralmente corresponde a juros de longo prazo.  

Se o valor da companhia é mais vinculado à expectativa de receitas futuras, como em empresas de ecommerce ou fintechs, a tendência é que o preço de sua ação seja mais impactado negativamente pelos juros mais altos.

Por outro lado, há empresas que se beneficiam de juros elevados, como bancos e seguradoras, já que uma parte significativa do resultado dessas companhias vem das receitas financeiras.

Para conhecer mais sobre finanças pessoais e investimentos, confira os conteúdos gratuitos na Plataforma de Cursos da B3. Se já é investidor e quer analisar todos os seus investimentos, gratuitamente, em um só lugar, acesse a Área do Investidor.



Fonte: B3 – Bora Investir

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