Com o anúncio do PIB nominal do Japão de 2023, um detalhe importante levantou questionamentos: por qual motivo o Japão caiu no ranking de maior economia do mundo? Na lista mais recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país asiático perdeu a 3ª colocação para a Alemanha. Segundo o FMI, o ranking leva em conta o Produto Interno Bruto (PIB) nominal, ou seja, sem ajuste pela inflação. Com isso, os alemães despontam com um PIB nominal de US$ 4,43 trilhões, enquanto o Japão registrou US$ 4,23 trilhões.
Mas a nação japonesa – famosa por ser uma potência industrial e de exportação — agora busca um novo espaço para se destacar no mercado internacional.
- 1. Estados Unidos – US$ 26,95 trilhões
- 2. China – US$ 17,7 trilhões
- 3. Alemanha – US$ 4,43 trilhões
- 4. Japão – US$ 4,23 trilhões
- 5. Índia – US$ 3,73 trilhões
- 6. Reino Unido – US$ 3,33 trilhões
- 7. França – US$ 3,05 trilhões
- 8. Itália – US$ 2,19 trilhões
- 9. Brasil – US$ 2,13 trilhões
- 10. Canadá – US$ 2,12 trilhões
Fonte: Fundo Monetário Internacional
Inflação e juros
No ano passado, o Japão teve uma inflação de 3,1%, uma das mais elevadas na série histórica do país desde 1982, de acordo com o Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês). Com isso, nesta terça-feira (19), o BoJ aumentou a taxa básica de juros, tirando do negativo de -0,1% para a faixa entre 0% e 0,1%. Segundo o relatório econômico da gestora Neo, o Japão foi o último país no mundo a abandonar a taxa básica de juros negativa.
“Há, porém, ainda um longo caminho para que o BoJ consiga declarar que a inflação está acima da meta de 2% de forma sustentada”, aponta o relatório. Há anos o país vive o risco de deflação e baixo crescimento da economia. E mesmo que as taxas tenham se mantido mais elevadas nos últimos anos, grande parte da inflação do pós-pandemia pode ser explicada por “choques em preços de alimentação e de energia, que não costumam perdurar”, diz a gestora.
Apesar do recente movimento de juros do BoJ, o Japão ainda é um dos países com as menores taxas do mundo, lembra Gilberto Cardoso, CEO da Tarraco Commodities e membro do Fórum Brasil Export. “Eles irão subir os juros para controlar a inflação no Japão. Mesmo que suba para 0,2% ou 0,25%, ainda é pouco em relação aos juros de outros países desenvolvidos, como EUA. O iene vai ter um pouco de valorização, tenta equilibrar a importação em termos de insumos e controla a inflação”, afirmou.
O relatório “Japão: Declaração Conclusiva da Equipe da Missão do Artigo IV de 2024”, do Fundo Monetário Internacional (FMI), alerta que mesmo com a retomada pós-covid, ainda é preciso avançar com reformas estruturais para que a economia cresça de forma sustentada no médio prazo.
“Um menor crescimento potencial, refletindo o envelhecimento e o declínio da população em idade ativa, aumentará os níveis de dívida a longo prazo. A análise do risco soberano e da sustentabilidade da dívida concluiu que as necessidades brutas de financiamento são elevadas, mas os riscos de prorrogação são atenuados pela grande base de investidores nacionais e pelo perfil da dívida, sendo o risco global de sobreendividamento avaliado como moderado”, afirma trecho do relatório.
O FMI destaca que o BoJ tem sido cauteloso por causa do histórico de deflação no Japão, além de apontar alguns sinais contraditórios, como os riscos para a inflação com o fortalecimento dos salários nominais e a retração do consumo no mercado interno. Parte disso vem dos recentes ajustes políticos do BoJ que permitiram que nos últimos 10 anos o rendimento fosse mais flexível e impulsionado pelas forças de mercado, o que, segundo o FMI, ajudou a conter a expansão excessiva das compras de títulos do governo japonês e a apoiar a rentabilidade das instituições financeiras.
Consumo interno
O consumo das famílias caiu 0,2% no último trimestre, e o investimento não residencial de empresas privadas, 0,1%, segundo dados da Associated Press. Houve um aumento de 2,6% nas exportações e de 1,7% nas importações.
“Várias empresas japonesas estão focando em uma segunda onda de investimentos de materiais críticos, como descarbonização e chips de tecnologia. Pode ser uma virada de mesa nos próximos meses”, disse Cardoso.
Os efeitos da política de restrição durante a pandemia de covid-19 em 2020, 2021 e parte de 2022 ainda são sentidos na economia japonesa. Porém, nos últimos 24 meses a renda interna voltou a ganhar fôlego, com apreciação de salário e aumento do investimento em bolsa de valores.
Vantagem competitiva
Apesar de perder espaço para a Alemanha, o Japão pode ultrapassar os alemães se continuar com a mesma política econômica, mas intensificar a atração de investimentos para se elevar ao mercado internacional mais uma vez. “A grande diferença é uma vantagem competitiva. A Alemanha perdeu a vantagem energética por causa da guerra da Rússia contra a Ucrânia. O Japão continua dependendo de importação, mas ele busca de novo se colocar no mercado internacional como indutor de investimento para garantir essa cadeia de suprimentos, como chips e descarbonização. Vai buscar novas oportunidades para crescer o PIB. Eu acredito que daqui a dois anos ele se recupera, se nada mudar na política econômica.”
Concessão de crédito
Outro destaque vai para o sistema financeiro japonês que, de acordo com o FMI, conseguiu resistir a uma série de choques provocados, sobretudo, pela pandemia de Covid-19, o que foi auxiliado por fortes reservas de capital e liquidez, além de um amplo apoio político na época. Com isso, a concessão de crédito ao setor privado se manteve constante desde a pandemia.
O relatório ainda aponta três principais fontes de vulnerabilidades no sistema financeiro japonês: as detenções consideráveis por instituições financeiras de títulos sob marcação a mercado, as notáveis exposições cambiais de alguns bancos e sinais de sobreaquecimento em parte do mercado imobiliário.
Os bancos e seguradoras japoneses são, no seu conjunto, capazes de resistir a um cenário adverso com baixo crescimento global e inflação elevada, mas algumas instituições podem ser vulneráveis, de acordo com o FMI. “A análise do risco climático, embora incerta, sugere que os bancos têm exposições importantes a setores intensivos em emissões, mas a nível do sistema podem ser resilientes a uma transição para emissões líquidas zero até 2050”.