O mercado de capitais cresceu e ganhou mais complexidade nos últimos anos – e esse desenvolvimento é importante para democratizar o acesso ao financiamento no Brasil. Os presidentes do Banco Central, Roberto Campos Neto, e da Comissão de Valores Mobiliários (CMV), João Pedro Nascimento, discutiram o tema durante a Expert XP, que acontece nesta sexta-feira (30/08), em São Paulo.
Ao ser questionado por Caio Megale, economista-chefe da XP, sobre se a profundidade do mercado de capitais melhora ou piora a potência do canal de transmissão de política monetária, Campos Neto respondeu: “eu sou da visão de que o aprofundamento do mercado de capitais contribui muito para a política monetária em geral”.
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Segundo ele, o mercado de capitais “é um veículo em que se consegue alocar recursos de forma mais eficiente, e isso traz uma democratização do processo de desintermediação financeira”. Isso porque quando empresas grandes e médias conseguem acessar o mercado financeiro, os bancos passam a ter mais recursos disponíveis para emprestar para outros segmentos, como pequenas empresas, setor imobiliário, microcrédito, agropecuária.
“Quanto maior o mercado de capitais, mais os bancos vão estar onde o mercado de capitais não está. Isso é importante porque leva recursos para pequenas empresas e microempresas”, afirmou.
Nascimento complementou que isso abre espaço também para um maior financiamento de pequenos e médios empreendedores nas finanças públicas. “Tradicionalmente, o agro foi financiado pelo Plano Safra. Se os grandes emissores passam a se financiar com o mercado de capitais, o Plano Safra fica mais disponível para pequenos produtores”, afirmou.
Crescimento do número de investidores
Em sua apresentação inicial, Nascimento comentou o crescimento do mercado nos últimos anos, apesar de o País ter passado por períodos desafiadores recentemente. Segundo ele, o mercado que é regulado pela CVM soma R$ 57 trilhões até a metade de 2024. “O mercado cresceu também em quantidade de participantes, número de contas, fundos e gestores”.
O presidente da CVM também fez questão de afirmar que, apesar do baixo volume de ofertas iniciais de ações (IPOs) e ofertas subsequentes (follow ons), o mercado não ficou parado. “Foi um período desafiador na temática de oferta de ações, mas por outro lado foi momento intenso em crédito privado”.
O número de ofertas em 2022, 2023 e a 2024, segundo ele, mostra que mercado de capitais continua aproximando poupadores de tomadores. “Produtos de dívida seguem irrigando o mercado de capitais com recursos, para geração de emprego e renda, crescimento da economia, aumento da arrecadação e geração de empregos”.
Cenário macroeconômico global
Campos Neto fez também uma avaliação do momento global para a macroeconomia. Segundo ele, há uma “percepção de que entraremos em um período de desaceleração global”, após um ciclo sincronizado de afrouxamento monetário e fiscal nos principais países durante a pandemia. Mas o mercado de trabalho ainda é um ponto que traz dúvidas: “um fator comum na recuperação da pandemia é que o mercado de trabalho ficou muito apertado em grande parte do mundo”, disse em referência a atual situação da queda de desemprego e aumento da renda.
“Na fala mais recente de Jerome Powell [presidente do Fed], ficou clara que existe a percepção de convergência da inflação para um nível próximo à meta e de que o mercado de trabalho vai começar a desaquecer”, afirmou o presidente do BC. “Agora, o mundo está se preparando para uma queda de juros americanos, mas ainda temos dados importantes até a decisão do Fed. Pela precificação do mercado, o ciclo pode se iniciar em setembro, com queda de 0,25 p.p. ou até maior”.
Ele destacou, entretanto, um ponto de atenção: as discussões sobre política econômica na eleição dos EUA. Com o debate centrado no endurecimento das regras imigratórias, aumento do protecionismo e política fiscal mais frouxa, a avaliação é de que pode haver uma pressão inflacionária a partir do próximo ano.
Além disso, a desaceleração do crescimento chinês, a fragmentação do comércio internacional pós-pandemia, o custo da transição energética e a mudança recente de política econômica do Japão também trazem incertezas quanto ao cenário econômico internacional.
Sobre a política monetária do Brasil, Campos Neto voltou a afirmar que o “BC fará o que for preciso para levar a inflação para a meta”. Segundo ele, a escolha do colegiado por não dar um guidance na última reunião foi tomada porque o Copom entende que a próxima decisão ainda depende dos próximos dados econômicos e, por isso, prefere ter flexibilidade. Sobre uma possível nova elevação da Selic, ele afirmou que, “se e quando houver esse ciclo, ele será gradual”.
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