Discursos de três dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e indicadores dos Estados Unidos de inflação ao produtor (PPI), sentimento do consumidor e expectativas de inflação da Universidade de Michigan serão acompanhados de perto nos mercados em meio à calibragem das apostas sobre o momento do início de corte de juros no país. Os investidores vão olhar também o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, em videoconferência da Bradesco Asset.
Exterior segue ajustando apostas sobre corte de juros nos EUA
Após ficarem bem comportados nas últimas duas sessões, os retornos dos Treasuries e o dólar frente moedas principais sobem nesta manhã, mas não impedem novos ganhos também entre os futuros de ações em Nova York em meio a expectativas por indicadores de inflação dos EUA e comentários de dirigentes do Fed.
Após a inflação ao consumidor (CPI) americana vir acima do esperado e dos indicadores mistos ontem, a probabilidade de início dos cortes em junho pelo Fed estava há pouco em 77,3%, segundo o CME Group. Ao mesmo tempo, avançam as apostas num alívio total de mais de 100 pontos-base até o fim do ano.
Para o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, o CPI de janeiro não marca uma mudança na tendência de queda da inflação e “o momento adequado para tornar a política monetária menos restritiva” está se aproximando, mas, diante da resistência do mercado de trabalho e do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país frente às elevações de juros, não há urgência nessa tomada de decisão.
O desempenho positivo de Wall Street ontem contribui ainda para o apetite por risco na Europa e Ásia. As bolsas na Europa ampliam ganhos, apoiadas no desempenho do setor varejista do Reino Unido acima das previsões e no balanço do banco britânico NatWest, que trouxe lucro trimestral maior do que o previsto.
Entre dirigentes do BCE, a integrante do conselho do banco Isabel Schnabel disse nesta sexta-feira que a política monetária precisa continuar restritiva até que a instituição tenha confiança de que a inflação na zona do euro voltará para sua meta oficial de 2% de forma sustentável. De outro lado, o membro do Conselho do BCE Edward Scicluna afirmou que a instituição deveria reconhecer que a inflação está recuando, parar de “inventar desculpas” e considerar cortes nas taxas de juros já em março, segundo a Bloomberg.
No Brasil, surgem dúvidas sobre manutenção de ritmo de cortes na Selic
O avanço da curva de Treasuries e a queda dos preços do petróleo nesta manhã podem afetar negativamente os ajustes dos ativos locais, principalmente dos juros futuros, embora o apetite leve por ativos de risco nas bolsas possa amenizar a reação do Ibovespa na abertura. A Vale fica no radar também em meio ao impasse sobre a permanência ou não do CEO, Eduardo Bartolomeo, na liderança da companhia e também deve repercutir o andamento do processo de privatização da Sabesp.
Também será monitorado o IGP-10. Após cinco meses consecutivos no terreno positivo, o indicador mostrou queda de 0,65% em fevereiro, puxado por um novo recuo dos preços agropecuários no atacado.
As atenções se voltam também para o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, em meio a dúvidas sobre a manutenção do ritmo de corte de 0,50 ponto porcentual da taxa Selic nas próximas reuniões diante da possibilidade de os juros nos EUA permaneceram nos patamares atuais, de 5,25% a 5,50% ao ano, por mais tempo que o esperado no mercado. No câmbio, o dólar pode hesitar e oscilar entre margens estreitas diante dos sinais mistos no exterior, em leve alta ante divisas principais, mas com viés de baixa frente alguns pares do real, como peso mexicano e peso colombiano.
*Agência Estado