Morreu nesta quarta-feira, 21, o economista Affonso Celso Pastore, aos 84 anos, em São Paulo. Ele havia sido internado para uma cirurgia no sábado, 17, passou o fim de semana na UTI, mas não resistiu.
Graduado e com doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), Pastore era um dos economistas mais renomados do País. Entrou para a vida pública em 1966, como assessor de Antônio Delfim Neto, então secretário da Fazenda do Estado de São Paulo. No ano seguinte, com Delfim nomeado ministro da Fazenda, Pastore passou a integrar a equipe de assessores.
Mais tarde, teve passagens pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e assumiu a coordenação de pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas (IPE), ligado à USP.
Convidado pelo à época ministro da Fazenda Ernane Galvêas, Pastore comandou o Banco Central entre 1983 e 1985, durante o governo Figueiredo, último período da ditadura militar. O economista teve participação ativa nas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a dívida externa brasileira.
“Há um marco na vida profissional de Pastore: sua passagem pelo Banco Central. Ele se dedicou às negociações com os banqueiros credores e com o FMI, na tentativa de amenizar os efeitos da crise externa dos anos 80. Ajudou a deixar para trás a recessão”, lembrou o economista José Júlio Senna, ex-diretor da Dívida Pública e Mercado Aberto do Banco Central, em perfil publicado pelo Estadão.
Após deixar o BC, tornou-se conselheiro consultivo da Caterpillar do Brasil. “Ele mergulhou, então, em pesquisas empíricas, voltadas para entender os fenômenos associados a uma inflação na casa dos 200%. Os resultados estão reunidos em Inflação e Crises, livro de leitura indispensável a todos os interessados na macroeconomia brasileira. São 80 anos muito frutíferos”, disse Senna.
A economista Zeina Latif, que é ex-aluna de Pastore, comentou que o professor foi uma das inspirações para que ela seguisse a carreira de economista. “Os problemas econômicos do País invadiam nossas casas, e eu, ainda menina, ficava curiosa para entender o que dizia aquele senhor austero que era presidente do Banco Central”, disse.
“Na pós-graduação, decidi fazer pesquisa na área monetária e a USP oferecia o que tinha de melhor: Pastore. Sua análise tinha grande rigor analítico. Como acadêmico, fez grandes contribuições e, como consultor, se sobressai pelo zelo com a observação dos dados e a análise empírica. É um economista que não foge do debate econômico. Alguém que entende sua missão e se importa com o Brasil. Tenho pelo professor Pastore profundo respeito e gratidão”, afirmou, à época, no perfil publicado.
Filho de Francisco Pastore e de Aparecida Pastore, Pastore nasceu em 19 de junho de 1939 na capital paulista. Após sua passagem pela vida pública, fundou em 1993 a consultoria A. C. Pastore & Associados, especializada em análises da economia brasileira e internacional, escritório no qual também trabalha sua esposa, Maria Cristina Pinotti.
Pastore voltou à cena política em 2021 para assessorar o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, então pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos. Em março do ano seguinte, no entanto, Moro desistiu da disputa.
Pastore também foi autor de dezenas de livros, escritos em parcerias com outros economistas e sozinho. Um deles foi “Erros do Passado, Soluções para o Futuro”, em que analisa os erros de política econômica cometidos a partir dos anos 1960. Em 2020, Pastore recebeu uma homenagem num livro com nove artigos e uma entrevista inédita, em que mostra seu percurso intelectual e seu legado. A obra tem textos de Antonio Delfim Netto, Arminio Fraga Neto, Celso Lafer, Edmar Bacha, Ilan Goldfajn, José Júlio Senna, Marcos Lisboa, Mário Magalhães Mesquita e Samuel Pessôa.
*Agência Estado