quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
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“Não é fácil operar com Trump presidente”, diz Stuhlberger

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“Não queira operar mercado olhando os posts de Donald Trump. Tudo o que ele fala hoje pode desdizer amanhã”, aconselha o famoso gestor de fundos multimercados Luis Stuhlberger, CEO e CIO da Verde Asset Management. Por enquanto, poucos dias após a posse do republicano, pouco foi feito. Mas o governo Trump pode movimentar (e muito) o jogo político e econômico do globo.

“Trump foi eleito com poder enorme tendo Congresso e senado e tendo um shift de votos de democratas para republicanos muito forte. Mesmo entre categorias que não votavam no Trump, tanto em swing states quanto no voto de latinos e negros”, lembrou Stuhlberger durante painel no Latin America Investment Conference, evento promovido pelo UBS em São Paulo.

Trump foi eleito com quatro grandes promessas: desregulação, política antiwoke, imigração e tarifa. “Acho que das três primeiras, ele segue na direção que teve mandato para ser eleito. E ele claramente está repensando a agenda de tarifas com uma calma que não é muito do estilo dele. Isso foi uma grande surpresa, pelo menos naquilo que o mercado precificava”, avalia o gestor.

Na questão das tarifas à China, Stuhlberger diz acreditar que Trump está começando a mostrar sua visão. “Primeiro, porque a China já tem tarifas, talvez seja o caso de talvez equilibrar o resto [das tarifa de importação dos outros países], até igualar com a China, e isso não estaria contrariando o mandato dele”, diz. “Segundo porque a China tem um leverage negocial [poder de negociação] que é muito importante para o Trump no momento”. Isso porque uma boa negociação com a China é importante para que Trump consiga costurar a compra do TikTok por uma empresa americana, e porque o país asiático é importante para resolver a guerra da Rússia, “que custa uma fortuna para a OTAN, e pode ter um benefício de reduzir o preço do petróleo de forma significativa, o que ajuda a levar a inflação para baixo”.

Ao lado de Stuhlberger no palco, Andre Bannwart, CIO da Evolution Asset Management do UBS, destacou que há uma novidade na relação de poder entre EUA e China: a fragilidade do crescimento do país asiático. “Apesar de duas crises que passamos nos últimos anos, os EUA ainda são líder em quase tudo: tecnologia, no setor financeiro, é o banco central e a polícia do mundo. Se tem alguém que pode ameaçar essa hegemonia é a China. Se eu fosse americano, seria de meu interesse desacelerar essa economia, mas não quebrar”, opina.

“A China vem de fragilidades. Teve um problema no setor imobiliário de enorme magnitude. O Japão teve algo próximo disso e perdeu 20 anos de crescimento. Boa parte da poupança do chinês que se perdeu. O país vem de alguns trimestres de deflação, o que também não é sinal de economia pujante. E o preço da bolsa chinesa é o mesmo de 2015. Quando junta isso com desemprego, vê que a China tem um problema”, explicou Bannwart.

A saída que o país encontrou até agora foi reduzir a margem operacional de suas empresas e fortalecer as exportações. “Com isso, a China ganhou tempo, está se segurando e está extremamente frágil”, disse.

Bannwart não deixou de comentar o episódio que derrubou o preço das ações de empresas de tecnologia nesta segunda-feira, quando a notícia de que uma inteligência artificial desenvolvida por uma companhia chinesa teria alcançado capacidades comparáveis a concorrentes americanas. “Se tem alguém que consegue ameaçar os EUA até no IA é a China”.

Stuhlberger concordou que a China está mais fragilizada que no passado. “Até dois ou três anos atrás, a gente achava que a China podia tomar lugar dos EUA em 20 a 30 anos ou estar de igual para igual. Hoje, esse cenário diminuiu muito”, disse.

Isso não quer dizer que não seja uma ameaça. “Se deixar, a China destrói a indústria de todos os países do mundo”, comentou. “Mas o modelo chinês passa por uma crise, o país não pode sustentar um conflito com os EUA. Mas esse conflito um dia vai acontecer. Os EUA também têm os próprios problemas deles, precisam em algum momento endereçar o problema da dívida”, lembrou. “É um incidente waiting to happen [esperando para acontecer], mas a gente ganha tempo”. Mas ele alertou que é preciso ter cautela a tomar posições acreditando em uma crise chinesa. “Apostar contra a China é cemitério de gestor”, brincou.

Inflação e crescimento dos EUA

Para além da relação com a China, o mercado busca prever quais serão os impactos das políticas econômicas de Trump na inflação e no crescimento dos EUA. Até agora, a economia americana tem mostrado resiliência apesar dos juros em patamares historicamente elevados para o país. Para Andre Bannwart, CIO da Evolution Asset Management do UBS, dois fatores explicam a resiliência da economia americana: o crescimento populacional (fruto, em parte, da imigração), e da expansão fiscal.

“O Trump deve ir contra esses dois pilares”, lembra. “A gente imaginava que ele ia barrar a entrada de novos imigrantes, mas estamos vendo alguma deportação também. E se ele conseguir a eficiência fiscal que busca, no longo prazo é algo excelente, mas no curto, reduz o impulso à economia”.

Ou seja: a política econômica de Trump pode levar à maior inflação, como já apontam os especialistas. Mas isso pode trazer desafios para o Fed. “O Fed, que tem mandato duplo, pode ficar em uma situação difícil”, diz Bannwart. Segundo ele, a autoridade monetária pode inclusive vir a surpreender o mercado com uma redução de juros mais agressiva no futuro, caso a atividade desacelere. “Porque lá, o desemprego anda rápido. Então mesmo com inflação mais alta, podemos ver o Fed cortando juros”.

Brasil

Os gestores discutiram também as perspectivas que veem para a economia brasileira. “Você se acostuma com as variáveis macroeconômicas, depois que você viu o dólar a R$ 6,20, R$ 5,80 parece maravilhoso, o problema é o R$ 7”, disse Stuhlberger. “Mas se você pensar no quadro macro do Brasil, a gente nunca esteve perto de como estamos hoje”.

Bannwart lembrou ainda que caso a perspectiva de desaceleração da economia se concretize, isso também pode vir a ser um problema. “O Brasil está com inflação porque está crescendo acima do potencial. Mas se a economia desacelerar, a dívida aumenta mais rápido. E pode ocorrer uma nova rodada de desvalorização cambial”, disse. “Essa taxa de juros deve desacelerar a economia, e quando isso acontecer, se não houver ajuste fiscal, a gente vai ver moeda desvalorizar”.

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Fonte: B3 – Bora Investir

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