“Antes de começar a reduzir os juros, eu tinha muitas conversas com pessoas muito preocupadas com o mercado de capitais”, contou Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Ele reconhece que houve um freio nas emissões enquanto a taxa Selic, a taxa básica da economia brasileira, estava em seu pico mais recente, de 13,75%. Hoje, meses depois do início do afrouxamento monetário, Roberto Campos Neto afirma: o mercado de capitais teve um crescimento extraordinário.
Durante o MKBR 2024, evento organizado pela B3 e pela Anbima, ele mostrou dados sobre o crescimento do mercado de crédito no Brasil nos últimos meses. “No mercado de debêntures, temos mais um ano que aponta para um crescimento extraordinário, com os spreads caindo na ponta e voltando para o nível do começo de 2019”, afirmou.
O presidente do BC destacou a diversificação das novas emissões do mercado de crédito e o desenvolvimento do mercado secundário. A parte de ações, entretanto, ainda está “um pouco mais fraca”, avaliou.
Gilson Finkelsztain, CEO da B3, também comentou o crescimento do mercado de capitais no País, que “evoluiu muito nos últimos cinco a sete anos”. Apesar dos juros ainda elevados, as incertezas sobre política monetária fora do Brasil e as tensões geopolíticas, Finkelsztain afirmou: “o mercado brasileiro não está parado. Evoluiu muito na parte regulatória, nas tecnologias e no acesso”.
“Temos um setor se distribuição dinâmico e competitivo, que consegue atrair o investidor e disponibilizar produtos financeiros com acesso fácil, barato e simples a todos”, resumiu. “Temos agora uma oportunidade enorme de trazer mais emissor e mais investidor”.
O mercado tem passado por uma “prova de resiliência”, avaliou Carlos André, da Anbima. “Tivemos um evento inesperado em 2023 no mercado de capitais, que trouxe desafio mutio grande. Mas dentro desse desafio, pudemos comprovar prova de maturidade do nosso mercado de crédito privado”, disse.
O tom dos três, entretanto, é otimista. “Um mercado de capitais sólido significa mais emprego, mais desenvolvimento e pode ser força motora de investimento em um país tão carente de infraestrutura e financiamento”, concluiu o CEO da B3.
Avanços recentes do Banco Central
Já com tom saudosista, visto que está em seus últimos meses de mandato, Roberto Campos Neto fez um balanço do que fez nos seus anos à frente do Banco Central. “É importante que o BC seja indutor do mercado de capitais”, disse.
Ele destacou algumas das reformas microeconômicas, como a melhora da recuperação de crédito, que “ainda tem muito a melhorar”. Falou também da redução da concentração bancária e o aumento das emissões dos setores imobiliário e do agronegócio.
Drex, PIX e open finance
“Há vários problemas que ainda não foram endereçados e podem ser com o Drex”, afirmou o presidente do Banco Central. Segundo ele, o potencial da moeda digital junto com o open finance é grande. “As pessoas ainda não quantificaram a capacidade do Drex, principalmente onde a gente tem assimetria de informação”, disse.
Segundo ele, as tecnologias do Drex, PIX, open finance e a internacionalização da moeda começam agora a se integrar. “É um jeito de gerar comparabilidade e competitividade, para que pessoas possam extrair valor do que seria um Market place de finanças”, afirmou.
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Sobre o sistema de pagamentos instantâneos, além do crescimento bastante acentuado, Roberto Campos lembrou que ainda há funcionalidades sendo desenvolvidas, como o pix automático e a possibilidade de fazer pagamentos por aproximação com o PIX, “para que possa ser mais amigável do ponto de vista de usuário”.
Um ponto de atenção que está na mira do BC é a segurança. “Endereçando a questão das contas laranja. Os crimes acontecem hoje porque tem uma conta receptora. Estamos avançando muito nessa parte”, disse.
Na seara do open finance, um tema “muito mais árido do que o PIX”, o desafio é comunicar de forma clara os benefícios da novidade para as pessoas.