Entre setembro de 2023 e abril 2024 a inflação acumulada em 12 meses sofreu quedas respondendo à política contracionista do Banco Central, que manteve a taxa Selic acima dos 10% ao ano. Porém, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) voltou a subir desde então e se mantém acima do centro da meta de inflação, ainda que o resultado de agosto tenha revertido em parte o cenário, ao apresentar deflação.
Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta é 3% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior 4,5%.
Segundo José Carlos de Souza Filho, professor da FIA Business School, alguns fatores podem explicar os temores de um aumento da inflação no presente, a despeito da queda no mês passado.
“O primeiro é um aumento do PIB acima do esperado, indicando aumento da atividade econômica com vigor excessivo, gerando desequilíbrios. O segundo, que decorre do primeiro, seria a queda do desemprego, que aumenta a renda disponível e o consumo, pressionando os preços”, aponta ele.
Para o restante do ano, Souza Filho ainda destaca que alguns fatores preocupam, como o efeito da falta de chuvas e da seca aguda em algumas regiões sobre a produção agrícola.
Ele também afirma que de certa forma, o ambiente político eleitoral e as incertezas advindas da política fiscal fortemente arrecadatória podem ter como efeito uma pequena queda ou até a manutenção dada inflação persistente na faixa superior da banda inflacionária.
Inflação x decisão Selic
O professor da FIA Business School destaca que a variação para mais ou para menos dos índices mensais de inflação (IPCA, IPCA-15) não tem sido expressiva, revelando certa resistência em se ter uma queda significativa.
“Por conta disso, o BC tem sido bem conservador na sua política de redução de juros visando o longo prazo. E sem dúvida, continua a analisar outros indicadores como o câmbio desvalorizado que encarece os custos da maioria dos insumos e as incertezas quanto à política fiscal”, diz.
Contudo ele espera que não haja um aumento excessivo na taxa na decisão tomada nos dias 17 e 18 de setembro. A expectativa dele é de que a Selic seja definida em 10,75% na próxima reunião do Copom (Comitê Comitê de Política Monetária).
Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, a deflação de agosto tirou a impressão de que poderia se ter um ritmo mais forte de alta, de 0.50 p.p. Porém, ela acredita que o dado do mês foi algo “pontual, de uma devolução de várias coisas que aconteceram em julho. Então, sim, é como se a foto fosse boa, mas para frente o filme não”.
+ Deflação em agosto muda perspectiva para Selic?
O que pode controlar a inflação, além da taxa Selic?
De acordo com o professor, um componente inflacionário de relevância é a expectativa de inflação futura, que faz os agentes do mercado tomarem medidas preventivas. Outro componente de peso citado pelos especialistas é o desequilíbrio fiscal que faz com que o governo tenha que manter sua rolagem de dívida em patamar elevado, pressionando a taxa básica.
“Não adianta nada a gente ir com uma taxa de juros muito alta mas com o fiscal desajustado, com um ritmo de gastos muito forte, que foi o que aconteceu no primeiro semestre deste ano. Quando se tem um fiscal mais frouxo e incentivos de renda, a economia não desacelera, e por consequência a inflação também não”, destaca a estrategista de inflação da Warren Investimentos.
Por isso, uma boa manutenção dessas expectativas e melhor política fiscal podem colaborar com o controle da inflação. Assim como, segundo Souza Filho, também o crescimento equilibrado e uma produção agrícola em alta, sem os prejuízos de uma estiagem seriam fatores de equilíbrio.
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