A virada de estação fez com que os temores sobre o El Niño se dissipassem. Os possíveis efeitos desse evento climático sobre as safras da América Latina preocuparam economistas e analistas do mercado na virada para o ano de 2024, mas, com a chegada do outono no hemisfério Sul, a temperatura das águas do Oceano Pacífico volta à neutralidade. No entanto, isso não significa que não há mais incerteza sobre a produção agropecuária brasileira. Isso porque o fenômeno inverso, o La Niña, ainda pode dar as caras nos próximos meses. Mas o que são esses eventos, e como eles podem afetar o seu bolso e a economia do Brasil?
O que é El Niño e La Niña?
O El Niño é um fenômeno caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. “Durante o fenômeno, que, normalmente, começa a se formar no segundo semestre do ano, as águas ficam, pelo menos, 0,5°C acima da média por um longo período de tempo de, no mínimo, seis meses”, aponta o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Parece distante do Brasil, mas esse aquecimento anormal muda os padrões de chuvas e temperatura em toda a América do Sul. Ainda de acordo com o Inmet, o El Niño aumenta o risco de seca na faixa norte das regiões Norte e Nordeste e de grandes volumes de chuva no Sul do País.
Já o La Niña é o oposto: é caracterizado pelo esfriamento das águas do Pacífico. No Brasil, pode causar chuvas acima da média no Norte e Nordeste, e secas no Sul e Sudeste, e assim causar danos a lavouras de diferentes culturas e regiões. O Centro de Previsão do Clima dos Estados Unidos atribui uma probabilidade de 62% para o início do La Niña em julho.
Quais os impactos para a economia?
Os fenômenos climáticos podem afetar a produtividade das lavouras no País e pressionar a inflação para cima. “Normalmente, no início de ano, a gente tem um preço de alimentos realmente um pouco mais pressionado. A grande preocupação que tinha no passado era a intensidade do El Niño, mas agora conseguimos ver uma moderação, o que traz uma boa notícia”, afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Com a possível chegada do La Niña, entretanto, voltam os temores quanto à situação das plantações. “São fenômenos opostos. O El Niño provoca um impacto negativo no Nordeste, e teoricamente, pode ser bom para o Sul do Brasil e para o Sul da América do Sul. O La Niña, ao contrário, é ruim para essa região Sul, e é bom para o Nordeste e o Norte do Brasil”, diz José Carlos Hausknecht, sócio-diretor da MB Agro.
“Na safra passada, tivemos uma quebra no Rio Grande do Sul, mas o Centro-Oeste e o Norte produziram bem, o Brasil teve uma safra recorde. Esta safra está acontecendo o contrário. A gente está com uma quebra no Centro-Oeste em geral, e está produzindo melhor no Rio Grande do Sul, na Argentina e no Uruguai”, afirma.
Segundo ele, como algumas regiões compensaram com boa produtividade as quebras de safra nas localidades mais afetadas, o preço internacional de grãos não tem se apreciado – pelo contrário.
A boa notícia é que até o momento, o cenário é positivo. “Quando a gente olha a cotação de commodities lá fora, em relação a 2023, hoje o preço está bem mais baixo”, afirma Sung. “A gente espera um preço melhor para alimentos nos próximos meses, o que traz algum alívio”.
Ainda há muita incerteza
Por enquanto, o que a perspectiva de um La Niña no segundo semestre traz é incerteza. “Nem sempre um La Niña traz efeitos tão trágicos como a gente viu no passado. Nem todo La Niña é igual”, diz Hausknecht.
“Acho que o ponto principal que a gente ainda não sabe, observando os principais órgãos internacionais, é a intensidade do La Niña. Eu acho que a intensidade vai ditar muito o impacto sobre a produção e a colheita de alimentos. Acho que esse é o ponto principal. A princípio, eu não vejo um evento extremo por enquanto, dado também que a gente tem essa incerteza muito grande”, completa Sung.