A preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade dos negócios não é um tema novo. A sigla ESG (ambiental, social e governança) tem sido usada há anos e não vai sair das manchetes e dos discursos tão cedo. Nos investimentos, o tema sustentabilidade vem ganhando espaço – principalmente na Europa, mas também nos Estados Unidos e a tendência está acelerando na América Latina.
De acordo com um levantamento feito pela Morningstar, o valor dos ativos dos fundos de investimento ligados ao clima aumentaram 16% em 2023, para o recorde de US$ 540 bilhões em todo o mundo.
E nesse tipo de investimento, os ETFs (sigla para Exchange-traded fund) vêm ganhando força. Segundo um estudo da Trackinsight, de 2014 a 2023, o número de ETFs ligados aos fatores ESG passou de 148 para 1.826.
No Brasil, não é diferente. A B3 conta com diversos ETFs e BDRs de ETFs ligados à sustentabilidade ambiental, social e governança.
Não tão passivos assim
Os ETFs são conhecidos também como fundos passivos, já que suas carteiras replicam um índice de mercado. Mas para Renato Eid, superintendente de estratégias indexadas e investimento responsável da Itaú Asset, essa definição não é a melhor.
“Quando a gente está falando de investimento, a gente vai atrás de uma tese de investimento embasada por uma mega tendência. Então, a gente busca encapsular essa tese de investimento, essa tese econômica, dentro de uma metodologia de um índice”, explica.
Por exemplo, um dos ETFs focados em ESG disponíveis tem como temática empresas que estão em transição com uma economia mais sustentável. “Então, como a gente faz isso? Pegamos empresas globais listadas na bolsa e olhamos o percentual de receita delas atrelada à economia verde, então a gente consegue encapsular isso dentro de uma metodologia [de um índice], e de tempos em tempos vamos olhar a receita dessas empresas, e as empresas que estiverem dentro desse percentual [de receita vinda da economia verde] entram na carteira”. Criado o índice, é lançado um fundo com base nele.
Eid ressalta ainda que os índices são criados com base em uma tese de investimento – que pode ou não se confirmar na prática, mas que tem como objetivo o retorno financeiro. No caso das empresas ligadas à transição energética, a tese é a de que as empresas mais bem posicionadas nesse sentido poderão ter crescimento acima das demais.
Engajamento junto às empresas para fatores ESG
Só nessa seleção e criação de índices, defende Eid, as gestoras já se colocam numa posição de engajamento junto às empresas e aos provedores de índices de mercado. “A discussão não fica só entre a gente, mas o mercado estabelece esse diálogo”, diz.
Daniele Medeiros, assessora sênior da BB Asset, também comenta que as próprias empresas trabalham para conseguir entrar nos índices. “Para a empresa, é bom fazer parte do índice, primeiro porque isso traz uma percepção positiva, e segundo, traz investimento, gera recursos e negócios”, afirmou, em evento sobre ETFs em maio. Isso porque, uma vez que uma empresa entra em um índice, os ETFs atrelados a ele precisam comprar as ações para compor suas carteiras. Isso aumenta a demanda pelas ações.
Transparência dos ETFs
Outro ponto destacado por Eid é a transparência das carteiras dos ETFs. Como são baseados em índices, os investidores podem, a qualquer momento, saber quais os ativos compõem o ETF e podem acompanhar as mudanças, seja pelo rebalanceamento do índice ou por modificações na metodologia.
No mercado, há índices e ETFs ligados a diferentes temas ambientais, sociais e de governança, como aqueles focados em diversidade dentro das empresas, transição energética, maior governança, hidrogênio verde, uso eficiente de carbono, entre outros.
Quanto investir em ESG?
O quanto cada pessoa poderá investir em ETFs temáticos e sustentáveis pode variar bastante, seja pelo objetivos ou pelo perfil de cada investidor. No entanto, Eid acredita que, em um portfólio diversificado, os ETFs temáticos devem ser “satélites” dentro da exposição, não o “core”.
“Estamos falando de uma tese de investimento que pode se materializar no médio e longo prazo, e pode não se materializar. O que a gente costuma observar dentro de recomendações de alocações são investimentos satélites, que permeiam 3% a 5% do portfólio”, diz.