Os mercados globais amanheceram nesta segunda-feira (05/08) em queda intensa. Pela manhã, nenhum índice das principais bolsas do mundo operava em alta. No Brasil, o Ibovespa também abriu em queda. Há pelo menos três fatores que explicam o movimento: as tensões entre Irã e Israel, a elevação de juros no Japão, e os temores com uma possível recessão nos EUA.
Na sexta-feira, o relatório de empregos dos Estados Unidos mostrou a criação de 114 mil novas vagas de trabalho não-agrícolas em julho de 2024, abaixo das expectativas do mercado, que eram de 175 mil. “Por que é tão relevante esse dado? Porque se a economia americana está começando a fraquejar, pode ser que o Fed tenha perdido o timing de reduzir os juros”, diz Eduardo Grübler, gestor de multimercados da Asset Management da Warren.
“Esses três pontos, trabalhando em conjunto, causam diversas liquidações”, explica Grübler. Isso porque a volatilidade dos mercados aumentou desde a semana passada, o que força fundos e outros investidores institucionais a reduzir o risco de suas carteiras. Isso gera um movimento intenso de vendas no mercado, e derruba ainda mais o preço.
“O que mexe com o preço, no final das contas, é fluxo. E há diversos motivos que explicam os fluxos. Pode ser porque mudei de opinião sobre o mercado, porque teve um fato novo, ou pode ser porque eu sou obrigado. Quando a gente tem que diminuir ou zerar uma posição, faz com os preços de mercado”, diz. Isso fortalece o movimento de queda nas cotações dos ativos, e desencadeia mais liquidações. “Isso cria uma bola de neve”, diz.
Isso se reflete em no índice VIX, uma medida de volatilidade do mercado americano. Na semana passada, o VIX girava em torno de 20, já acima do patamar em que se mantinha nas últimas semanas. Hoje pela manhã, superou 40. “A gente já vê o VIX, que é o índice de volatilidade das opções no mercado norte-americano, subindo bastante. Momentos como esse de maior tensão global com certeza contaminam bolsas, principalmente em países emergentes, que é o caso da bolsa brasileira, que acaba sendo mais sensível ao risco como um todo”, diz Caio Tonet, Diretor de Operações da W1 Capital.
Para Grüber, o aumento da volatilidade após um período de baixa é importante para entender a forte queda de hoje. “A gente estava há muito tempo com a volatilidade muito baixa. E quanto menor a volatilidade, mais as estratégias se posicionam [em ativos de mais risco]”, diz. “Ele sobe tão rápido porque as pessoas são obrigadas a operar no momento que precisam”, lembra. Quando o mercado começa a estabilizar, os agentes começam a aumentar as posições de maior risco, mas gradualmente. “A gente não cria confiança de um dia para o outro”, diz.
Há quem defenda, entretanto, que o movimento foi exagerado. “Embora o flow de noticias não seja dos melhores, na nossa visão vemos um movimento exacerbado de pessimismo global”, afirma Gabriel Maringelli, analista de Renda Variável e Estruturados da Arton Advisors.
Flight to quality
Em meio a incertezas e ao aumento da volatilidade, o mercado assiste ao chamado flight to quality, uma corrida dos investidores em direção aos ativos mais seguros: os títulos de dívida soberana dos Estados Unidos.
Isso teve um reflexo na precificação desses títulos. “Tivemos uma reprecificação abrupta na curva de juros de 10 anos nos Estados Unidos em questão de dias, que acabou se agravando após divulgação do Payroll na sexta-feira colocando em pauta possíveis reuniões extraordinárias do FED”, afirma Maringelli.
Segundo ele, esse movimento de mercado, de fechamento de juros nos EUA, combinado com aumento de juros no Japão na semana passada “fez com que os investidores institucionais zerassem a posição de carry trade (de tomar empréstimo em juros baixos e aplicar em juros altos para ganhar a diferença)”. Isso levou à valorização da moeda japonesa, o iene.
“A valorização da moeda de forma abrupta, balanço extremamente pesado do Banco do Japão e o aumento de volatilidade da moeda não são bem-vindos para a maioria dos países. Grandes bancos japoneses acabam sofrendo justamente pelo fluxo de empréstimos e depósitos frente ao BoJ [o banco central do Japão]”, afirma Maringelli. “Também, dado que o mercado japonês se beneficia majoritariamente de fluxo de exportação por parte de empresas de bens de capital, essa apreciação pode trazer um impacto no fluxo de exportação que é refletido negativamente nos preços de grandes empresas japonesas”.
O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, caiu 12,4% hoje, no maior tombo diário desde outubro de 1987. Em resposta, o ministro de Finanças do Japão, Shunichi Suzuki, disse que investidores precisam manter uma perspectiva de longo prazo e permanecerem calmos. “Espero que eles julguem as questões com calma”, disse Suzuki, referindo-se a investidores japoneses que aplicam em ações de um programa governamental que oferece vantagens fiscais para aplicações de longo prazo.
É difícil dizer qual a melhor decisão a se tomar em momentos de tamanha incerteza. “Por um lado, a gente vai ver correções que, pelo fundamento, não fazem sentido”, diz o gestor da AMW. Ou seja, alguns ativos podem ficar mais baratos do que as perspectivas de oferta e demanda por eles indicariam.
Isso pode ser uma oportunidade de compra? Não é bem assim. “Mas ao mesmo tempo, a gente não sabe onde isso vai parar. Entrar agora é complicado. A gente pode acertar, mas não dá para dizer que as correções terminam hoje”, afirma Grübler.
Para ele, esse é um momento que pode ser interessante para se avaliar sua carteira de investimentos. “Agora é um bom momento para falar com seu consultor de investimentos, de entender por que você estava com um portfólio mais defensivo, ou questionar por que você não tinha proteções”, diz.
*Com informações da Agência Estado